CARTA-COMPROMISSO DOS PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO DA REPAM SOBRE A LAUDATO SI AO POVO DE DEUS DO REGIONAL NORTE 3

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Querido e amado, povo de Deus,

“Da mesma forma como a chuva e a neve, que caem do céu e para lá não voltam sem antes molhar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produzir semente para o semeador e alimento para quem precisa comer, assim acontece com a minha palavra que sai da minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei” (Is 55,10-11).

Nós, 120 participantes do Seminário promovido pela Rede Eclesial Pan-Amazônia (REPAM), sobre a Laudato Si, em Miracema do Tocantins, nos dias 07 a 09 de outubro de 2016, cremos, professamos e proclamamos nossa fé no Deus que criou a terra e o céu. Tudo o que Deus criou, e viu que era muito bom, se move de forma circular. A Palavra que Deus profere também segue este mesmo ritmo. A Igreja, defensora que é da obra da criação, faz isto pela sua fé no Deus da criação e no compromisso que temos do cuidado com a nossa casa comum.

O papa Francisco na Encíclica Laudato Si, sobre o cuidado da casa comum, reforça a visão sistêmica do mundo, onde tudo está profundamente interligado. Discute temas convergentes como preocupações da ciência, da sociedade e da Igreja, como as questões socioambientais, promovendo uma Ecologia Integral. Afirma que “a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior, pessoal e comunitária”. Esta conversão gera várias atitudes transformadoras como gratidão e gratuidade, consciência amorosa de não estar separado das outras criaturas; compromisso com a luta comum para superar os grandes desafios ecológicos da nossa casa comum.

O Estado do Tocantins, através do MATOPIBA, vive um momento triste de destruição do Cerrado, de grilagens de terras, desmatamento e implementação de grandes projetos com violências e assassinatos ligados à questão da terra. Somos considerados uma das últimas fronteiras agrícolas do país na qual o agronegócio tem avançado sobre essas terras e territórios indígenas, expulsando camponeses, quilombolas, utilizando-se do trabalho escravo, destruindo e envenenando nossos rios com uso abusivo de agrotóxicos.

Diante desse cenário temos também as esperanças: articulação entre os jovens do campo e cidade, criação de novas escolas famílias agrícolas, fortalecimento dos movimentos sociais e sindicais, indígenas, quilombolas, articulação com outros povos tradicionais, o surgimento da Articulação Camponesa de Luta Pela Terra e defesa do Território no Tocantins, as comunidades que resistem e propõem alternativas de relação com a terra através da agroecologia e da preservação dos nossos rios.

Em nossa casa comum, vemos que as juventudes indígenas, quilombola, rural e urbana, e tantos outros cenários desta Pan-Amazônia, também gemem em dores de parto. Os movimentos político e econômico sustentados pela elite dominante e outros fatores expulsam essas juventudes para as periferias geográficas e existenciais. Por isto queremos que as juventudes tenham terra, trabalho e teto. Clamamos aos jovens e às jovens das comunidades eclesiais e da sociedade que assumam como compromisso a dimensão missionária, tecendo uma rede de solidariedade em defesa da vida nestas periferias.

Fortalecer as iniciativas existentes e apoiar o surgimento de outras nas paróquias, para a sensibilização das questões ambientais. Cobrar celeridade do Supremo Tribunal Federal para julgar e anular a vigência da Lei Estadual 2713/2013 que isenta de licenciamento ambiental todos os projetos agrossilvipastoris no Tocantins; assumir a campanha de defesa do Cerrado, motivada pela Comissão Pastoral da Terra – CPT.

A partir do convite de cuidar da casa comum a Igreja no Tocantins, estimulada pela REPAM, assume o compromisso e conclama outras organizações a se engajar na luta pela defesa do cerrado, apoiando a proteção, demarcação e titulação das terras e territórios indígenas, quilombolas e camponeses.

Que o Deus da criação nos abençoe e proteja a nossa Pan-Amazônia.

Miracema do Tocantins, 9 de outubro de 2016

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