Frei Capuchinho relata experiência de missão no Haiti

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Por Jaime Carlos Patias |04.04.13 | Os frades capuchinhos estão no Haiti para desenvolver a missão nas suas mais variadas características. “Francisco de Assis sempre nos ensinou a viver assim, não escolhendo o que fazer, mas abraçando o que a providência oferece, vivendo a ‘perfeita alegria’ da missão”. É o que conta o frei gaúcho de Nova Alvorada, Adani Carlos Guerra, OFMCap, após breve experiência de colaboração missionária no Haiti. Para isso, os freis priorizam o encontro e a relação com as pessoas.
 
” Alguns dias atrás estive pensando: seria o cúmulo do egoísmo comprar ou ganhar uma garrafa de vinho, do bom, e tomar sozinho! Nada melhor e mais fraterno do que convidar um, ou alguns irmãos, para uma boa conversa, para uma simples partilha. O que pensam? Parece bom, não é? Imagino-me agora, então, junto a vocês que lêem este artigo, tomando este bom vinho e partilhando minha rica experiência de ter estado no Haiti. Vamos tomar este bom vinho? Espero que gostem também da partilha!

No ano de 2011 fui agraciado com um dos mais belos presentes que um religioso poderia receber: realizar uma experiência missionária na comunidade de Abacou, no Haiti. A princípio seria em Corail, mas como os planos de Deus não são os planos dos homens, o meu destino acabou sendo este vilarejo encantador chamado Abacou.

Os frades capuchinhos estão no Haiti para desenvolver a missão nas suas mais variadas características. Francisco de Assis sempre nos ensinou a viver assim, não escolhendo o que fazer, mas abraçando o que a providência oferece, vivendo a “perfeita alegria” da missão. Para isso, os freis priorizam o encontro e a relação com as pessoas. E foi essencialmente para isto que fui: ser um irmão entre os irmãos haitianos.

De todos os momentos vividos e de todos os trabalhos realizados, algo ficou em mim, mas o mais forte que me vem à consciência cotidianamente é a lição do amor e da simplicidade daquele povo. É claro, ficaram ainda as amizades feitas, os abraços apertados, as longas caminhadas, os risos bobos, as brincadeiras com as crianças, os sorrisos que reciprocamente cada dia se faziam presentes em nossos rostos sem motivos especiais, as conversas à luz da lua que a todo momento borrifam em minha memória o perfume da missão que comunguei.

Esta “jornada no Haiti”, como carinhosamente tenho chamado, pode ser dividida em dois grandes momentos: primeiro, enquanto uma presença humilde na fraternidade e nos locais por onde passei; presença que não foi para tirar simplesmente proveito pessoal, mas para se dedicar aos que mais necessitam, por causa de um tal de Reino. E, junto a isto, o aprendizado do Creol (idioma popular haitiano), pois assim mais facilmente consegui chegar aos corações das pessoas.

Segundo, a colaboração com a missão que se deu através de trabalhos manuais na casa dos freis e na paróquia onde ajudei em suas organizações, visitando os doentes e famílias, conduzindo celebrações no pequeno vilarejo, colaborando na escola de informática, acompanhando o grupo Juventude Franciscana (JUFRA), entre outros. Foram dias de desafios e conquistas, choros e alegrias, vivências e convivências. Dias de intensa experiência franciscana-capuchinha.

Mas o que ainda gostaria de ressaltar é como via minha presença no Haiti. Desde minha opção em estar lá, tive em mente que não iria como uma presença solitária ou isolada, mas o pós-noviciado da nossa província do Rio Grande do Sul é que estaria contribuindo com a missão.

Desafios? Sim, existiram, mas sempre foram regados pelo amor. Onde há amor tudo pode ser encarado de forma diferente. O amor ensina-nos dar passos sempre com um sorriso no rosto, a manter o olhar sempre no horizonte, na causa. O amor sustenta, encoraja e até ensina a rir das dificuldades.

Os desafios foram muitos e grandes, porém, incomparáveis com a graça de Deus nesta experiência missionária. Depois dela, sinto-me um humano diferente, um frade diferente. Vejo-me mais cuidadoso, mais sensível, mais atento, mais terno, mais brincalhão com as pessoas, principalmente com aquelas que estão diariamente ao meu lado. Esta missão foi minha grande escola. Ao escrever agora, estou retomando cada lição. É, aprendi a aprender com quem muito pouco tinha. No final desta experiência, talvez pudesse me perguntar: o que aprendi? Ah, tanto! Mas, principalmente, aquilo que o poeta já escreveu e o cantor já entoou: o segredo é simples, o segredo é o amor! E aquilo que o Pequeno Príncipe já disse: “o essencial é invisível aos olhos”. Isto aprendi.

Ao contar tudo isto, surge no meu coração, um grande sentimento de gratidão. Assim, pois, quero agradecer aos dois últimos conselhos provinciais pelo apoio, pela confiança depositada em mim e pela oportunidade de realizar uma experiência tão bonita. Isso foi possível graças a vocês! Agradeço também à vice-província Madre del Divino Pastor, pela acolhida e força durante o ano, em especial aos freis brasileiros, haitianos e franceses que compartilharam a vida no Haiti, e, mais especial ainda, aos freis Sérgio Defendi, Frantz Gilles e Cadelin Prosper, pela maravilhosa experiência de fraternidade. Não posso me esquecer dos freis amigos de nossa província, principalmente os pós-noviços, que sempre me fortaleceram com os vários e-mails portadores de uma força motivacional de suma importância. A todos quero dizer: muito obrigado!

Por fim, arrisco-me dizer que o estágio foi um tempo de graça, onde experimentei que “Deus, por meio do seu poder que age em nós, pode realizar muito mais do que pedimos ou imaginamos” (Cf. Efésios 3, 20). Como dizia meu amigo frei André Barros: “O que permanece? O que parte? A esperança de um retorno, um povo repleto de frei Adani e um frei Adani mais haitiano”.

Que Deus nos conduza… Com gratidão.

Fonte: Frei Adani Carlos Guerra, OFMCap, Província Sagrado Coração de Jesus do Rio Grande do Sul.

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