Homenagem a Irmã Ana Roy

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Por Lauro Daros|25.02.14|  “Na mais linda simbologia o beijo de Deus é o gesto que expressa a intimidade do amor, sempre com proximidade. O amor é sempre próximo. Deus aproxima-se desse barro que Ele continua carinhosamente plasmando. Aproxima-se, sem distância nenhuma e beija essa argila. Podemos imaginar essa argila que somos nós sussurrando na boca de Deus, como a amada do Cântico, que diz: ‘Beija-me com beijos de tua boca’. E então o ser humano de terra se animou. Eis aí a volta ao primeiro amor. Deus escuta, continua beijando, envolvendo com ternura a minha existência, qualquer que seja a situação”. (Irmã Ana Roy)

Deus costuma brindar a humanidade e a Vida Religiosa com pessoas belas, criadas à sua imagem e semelhança, cheias de amor e vida. Pessoas que doam a mente e o coração, o corpo e os sentidos, o tempo e o espaço para amar e fazer o bem, como Jesus Cristo. Uma dessas pessoas foi a Irmã Ana Roy. A Convergência, em comemoração aos 60 anos, presta-lhe uma singela homenagem, com o objetivo de despertar nas novas gerações o desejo de escutar Deus, escutar o que diz esta fonte profunda de amor e vida.

A homenagem à Irmã Ana Roy se baseia no livro O Beijo de Deus – Provocação à Vida Religiosa. Livro organizado pelo padre  Márcio Fabri dos Anjos, C.Ss.R e publicado em 2010. São os manuscritos que a Irmã Ana Roy usava em conferências e cursos proferidos para a Vida Religiosa. A CRB tem muita gratidão à Ir. Ana, pois partilhou sua espiritualidade e saber com o povo, na inserção. Por meio de cursos promovidos pela CRB e por outras iniciativas e retiros solicitados por numerosas congregações, Ana contribuiu muito com a formação, levando a religiosos  e religiosas uma espiritualidade animadora e provocante.

Ela nasceu na França em 1925, entrou na Congregação das Auxiliares do Sacerdócio. Veio para o Brasil em 1962, inserindo-se na favela do Morro dos Cabritos no Rio. De estatura pequena e de alegria transparente, tornou-se brasileira por uma longa dedicação missionária. A partir de 1974 foi viver numa pequena comunidade no interior da Bahia

A importância da Irmã Ana Roy para a VRC é facilmente percebido na Apresentação do livro, escrita pela Irmã Márian, na Introdução, feita pelo organizador, padre Márcio Fabri e nas Memórias e Testemunhos de pessoas que tiveram a alegria de conhecê-la e de conviver.

Ao apresentar o livro, Irmã Márian escreve: “Mais que apresentar um livro, quero partilhar a experiência de tê-lo recebido em minas mãos na forma de um pesado pacote de cadernos, blocos grampeados e folhas soltas, contendo uma letra miúda e caprichada de Ana Roy. Naquele dia, 16 de janeiro de 2008, Ana não tinha mais forças para sustentar a sacola que preservava o tesouro de seus manuscritos. Estava enfraquecida e falava com dificuldade. Seu olhar, porém, garantia a limpidez de seu pensamento, e o toque de suas mãos assegurava a força da personalidade e a solidez da fé que marcaram sua vida!

Escreve ainda Irmã Márian: “Falou sobre a Sabedoria, atitude primeira e fundamental em tempo de travessia. Senti que a porta estava aberta para o grande pedido que eu me preparava para formular – o direito de publicação de seus escritos, para a CRB Nacional.

O diálogo que se seguiu não foi simples. Ana nunca digitara seus textos. Sistemática e perseverante, ela registrava seu pensamento, ora com uma única palavra, ora em frases incompletas, ora em longos parágrafos redigidos com perfeição. E me disse: ‘Márian, os escritos não são importantes; importante foram os encontros com a Vida Religiosa que os inspiraram; importantes foram as descobertas, importantes são as pessoas, importante é a vida’. Minha resposta quis ser uma provação: ‘Ana, existem gerações inteiras de jovens religiosas e religiosos que não participaram de seus encontros, não frequentaram suas aulas, não integraram seus grupos de retiro, não tocaram sua experiência de amor’. Finalmente, Ana fechou os olhos por um momento e, quando os abriu, eu os vi luminosos. Ana não pensava em um livro, Ana pensava em nós”.

Conclui Irmã Márian: “À partilha desta primeira parte dos escritos de Ana Roy simboliza a partilha de sua vida, pois sua vida – agora transfigurada – fortalece nossa opção fundamental por seguir Jesus na radicalidade de nossa consagração. Obrigada, Irmã Ana, pela irradiação de sua vida-testemunha do amor”.

Na introdução do livro, padre  Márcio Fabri traz reflexões que que fazem jus à Irmã Ana Roy. Eis algumas:

“O estilo vigoroso e surpreendente de Irmã Ana Roy se revela já no título deste livro. Eis aí uma síntese do seu modo de ver Deus e deixar-se ver por Ele: o divino e o humano entrelaçados, dialogantes, envolventes, comprometidos. Longe de um simples voo romântico, ela colhe na inspiração bíblica esta expressão, ao mesmo tempo teológica e poética, para falar do Amor comunicativo e salvador. Pois sua vida está marcada pela intimidade com Deus e pela comunicação do seu amor às pessoas, ao mundo.

De fato, na sua experiência de vida, com ousadia missionária, Ana deixa a França, seu país de origem, para repartir com os pobres e com a Vida Religiosa no Brasil, o testemunho e anúncio deste mistério grandioso de Deus. Este livro brota, portanto, de uma espiritualidade profunda, cultivada ao longo de sua vida, até os dias de dor que marcaram sua despedida desta terra”.

Por fim, o padre  Márcio deixa um profundo agradecimento à Irmã Ana Roy por esta herança tão rica que nos deixou. Diz: ”Que a a profundidade de suas reflexões, o carinho missionário e profético de suas provocações nos levem a aceitar em nós o beijo amoroso de Deus”.

Dentre as memórias e testemunhos, destacam-se dois por trazerem a ternura, o respeito, a humanidade, a beleza e sacralidade da Ir. Ana Roy:

Irmã Elza Ribeiro, ipg: “Ana Roy deixou que Deus fizesse dela uma catedral de extraordinária humanidade, beleza, sacralidade e graça, como bem poucas vezes encontramos. A Vida Consagrada do Brasil foi a herdeira desse tesouro e a memória de Ana – mulher, religiosa, apaixonada pelo Reino, serva e encarnação da Palavra, – está tatuada em nossas vidas como presença encorajadora. Obrigada, minha ‘amiga-irmã sempre jovem e bela’.”

Irmã Vilma Moreira, fi: “Ana foie continua sendo o ‘velho tronco’ ao qual me abraço muitas vezes. Conheci-a no Rio de Janeiro, há mais de 40 anos, num Curso de Catequética. Eu voltava da Europa, carregada de uma bagagem  teológica bem desencarnada. Ela já vivia numa favela: rezava, ensinava e respirava a Palavra a partir dos pequenos. Com ela aprendi a ‘tocar’ e a ‘deixar-me tocar’ – pelo beijo de Deus aos pobres, com imenso respeito e ternura. Marci, mon vieux tronc!”

Assim como iniciamos o texto com a poesia de Ana Roy, da mesma forma fechamos com mais um pouco de sua poesia: “Receber o beijo de Deus é acolher toda a energia divina, que passa por este hálito de vida, para dar vida e força a meu corpo-terra. Que concluir disso? Sou amado, sou amada, infinitamente amado, infinitamente amada  essa  história de amor está escrita no meu corpo. Por isso sou experimentado, o que muita carne almeja com toda força, pelo Amor, porque o meu desejo mais profundo é a abertura ao Amor. Por isso minha resposta a esta vocação de amor só pode ser  um ‘sim’ terno, carinhoso a este plano de Deus”.

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