Religiosos aprofundam realidade amazônica e são enviados em missão

Compartilhe nas redes sociais

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no telegram
Telegram

Por Rosinha Martins|28.03.2015|”Bendito sejais, Senhor Deus de nosso povo amazônico. Que te louvem, te festejem e te bendigam todas as pessoas”.  Animados por este refrão do salmo do povo amazônico que parafraseia o cântico bíblico das criaturas, 26 jovens missionários e missionárias , iniciaram o encontro de formação em preparação para missão que realizarão nas comunidades da diocese de Óbidos e Prelazia de Itaituba, interior do Pará.

O encontro contou com a assessoria da psicóloga e religiosa da Congregação das Missionárias de Santa Teresinha, Irmã Antonieta Pereira da Silva, mst; a socióloga e professora Maria de Fátima da Fonseca, o bispo da Prelazia de Itaituba-PA, dom Vilmar Santin, Ocarm, e do teólogo diocesano, padre Luis Pinto.

Ao tratar do tema relações humanas, Irmã Antonieta destacou a importância da descentralização do eu como fundamental para o exercício da missão. “Estar em missão é fazer a travessia do próprio eu, o que significa dizer que somente na medida em que a pessoa se doa, se coloca à disposição da missão, num movimento de saída de si mesmo, da autorreferencialidade é que encontrará o sentido da vida”.

A psicóloga trouxe à tona o pensamento do filósofo Victor Frankl ao dizer que a pessoa volta para si mesmo, para seus problemas somente quando falece a busca de sentido. “Quem, ao contrário, apesar das dificuldades e insucessos levanta a cabeça e vai em frente, sabe onde depositou sua fé e mantém seu olhar fico em Jesus”.

O bispo da Prelazia de Itaituba-PA, apresentou os desafios sócio-ambientais e eclesiais que compõem o cenário desta parte do bioma Amazônico.

De acordo com Santin, os paraensens são oriundos de ribeirinhos, os chamados “soldados da borracha” nordestinos. Hoje a população já se mescla com os imigrantes vindos do sul do Brasil para o que ele chamou hoje ciclo da soja e do gado. Como desafios apontou a construção de hidrelétricas, a mineração que  tem provocado o inchaço nas cidades com a chegada em massa de mão-de-obra, o que leva ao aparecimento de problemas como a prostituição, a violência, a gravidez precoce e ao analfabetismo crescentes. “Esses casos são tratados com normalidade pelas pessoas daqui. Crianças sem pais se tornou a coisa mais normal”, enfatizou.

Preocupado com a ausência da Igreja, dom Vilmar fez um grande apelo à Vida Religiosa para que abrace a causa da Amazônia. “Como Igreja não temos estrutura para atender os povos que aqui chegam”. E acrescentou que o único padre que tivera até então em sua Prelazia acabara de pedir dispensa.

Dom Vilmar frisou que a Vida Consagrada tem sido protagonista da missão na Amazônia, desde os primeiros missionários que chegaram no século XVI, como os Carmelitas, Franciscanos, Jesuítas e Mercedários. “Hoje a Amazônia conta com a presença de 2.607 religiosos, sendo 1.754 Irmãs, 245 Irmãos e 608 padres consagrados. Portanto as religiosas continuam sendo as pioneiras na missão, embora nem sempre a Igreja reconheça esse papel tão importante.

E concluiu com duas mensagens do Papa Francisco à Igreja do Brasil. “A Igreja Católica não pode perder a Amazônia, porque foi ela quem começou a evangelização nestas terras e tem uma responsabilidade diante de Deus de dar continuidade e seu sonho, como Papa,  é de ver o dia em que cada aldeia indígena brasileira  tenha seu próprio padre indígena.

A socióloga e professora Maria de Fátima da Fonseca destacou os desafios que enfrentam os jovens em relação à educação, os meios de comunicação, os problemas da violência e das drogas que atingem a juventude.  Para ela, a conjuntura atual favorece mudanças significativas na vida do jovem da região amazônica que sempre teve um modo de vida, jeito de relacionar com Deus, com as coisas, com a natureza de uma forma muito própria e mais pura. O seu modo de ver e encarar a vida mudou muito com a chegada de ‘estrangeiros’, o que quer dizer, pessoas não nativas.a

A professora considera importante que os jovens missionários precisam ter esse conhecimento da realidade em vista do bom êxito da missão.

Destacou, também, que as distâncias geográficas dificultam o desempenho do jovem que viaja via aquática por horas a fio para chegar na escola. “Quando ele chega na sala de aula não consegue prestar a atenção pois está cansado da viagem”.

O dia de formação encerrou-se com a missa de envio presidida por dom Vilmar Santin que, após abençoar os crucifixos, enviou cada missionário/a com a oração de dom Erwin Kräutler, bispo da prelazia do Xingu. “Vai meu irmão, minha irmã! Lá, em tua nova missão, em tua nova terra, em tua nova pátria”.

Leia a íntegra da oração a seguir.

“Vai meu irmão, minha irmã! Lá, em tua nova missão, em tua nova terra, em tua nova pátria.

Anunciarás Jesus Cristo e o seu Evangelho. Servirás aos pobres, aos excluídos do banquete da vida, lavando-lhes os pés. Falarás com quem nunca andou ou não anda mais conosco.

Tu te aproximarás com muito carinho de um povo com cultura e tradições diferentes.
Chegando lá, estranharás, sem dúvida, os costumes e usos locais.
Mas não imporás as tuas ideias! Não apresentarás o país, o estado ou cidade que te viu nascer como paraíso!

Não dirás nunca que no lugar onde te criaste, as coisas são bem melhores!
Não  darás nunca a impressão de que vieste para ensinar, para civilizar, para instruir, para colonizar! Jamais violentarás a alma do povo que, doravante, será o teu povo! Oferecerás simplesmente o testemunho de tua fé, de tua esperança e de teu amor, e darás a tua vida até o fim, até as últimas consequências!

Assim, tu terás o privilégio e a felicidade de viver a graça de todas as graças! Encontrarás o Senhor que disse: ‘Depois que eu ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia’ (Mc 14, 28). Missão é sempre ir à Galileia de todos os continentes”.

Na manhã deste sábado, 12 religiosos partiram de  Santarém-PA, para a diocese de Óbidos e 14 religiosos para a Prelazia de Itaituba, onde permanecem  com as comunidades até o domingo de Páscoa.

 

Publicações recentes